terça-feira, 20 de abril de 2010

UMA VIAGEM FASCINANTE E ENRIQUECEDORA

Nessa tarde, precisamente às 13hs, estava no Metrô que faz ligação Estação Palmeiras Barra Funda à Estação Corinthians-Itaquera.

A vantagem do Metrô em relação a CPTM, além dos trens serem melhores, da estrutura física e do atendimento aos passageiros, está o menor tempo de espera entre os trêns. Por essa razão, não demorei muito para embarcar.

Geralmente, a maioria das pessoas ao adentrar num vagão procuram de maneira automática, e com muita rapidez fazem uma varredura visual na tentativa de encontrar um banco vazio para se sentar, e claro tornar a viagem mais confortável.

Por sorte, não era horário de pico. Então, pude escolher bem à vontade em que banco sentar. Ajeitei minha mochila no colo e comecei a olhar para as pessoas que compunham àquele vagão.

Contudo, demorei para perceber que a minha frente estava sentado um garotinho com uma senhora idosa. Até aí, tudo normal, poderia ser a vovó acompanhando seu netinho. Pelas características físicas não tinha mais que sete anos. Pele Morena, cabelo crespo, olhos negros e bem assiado. Estava vestindo um short preto e branco, camisa do Corinthians Futebol Clube, meião e chuteras pretas. Ao visualizá-lo tive duas certezas. A primeira, corinthiano "rocho". E a segunda, estava indo para algum treino ou jogo de futebol.

Ao fixar meu olhar por alguns minutos, observei que alguma coisa diferente possuia àquele garoto em comparação aos demais. Porém, a felicidade estampada em seu rosto acompanhava o brilho intenso do sol ao início de tarde. Com muita rapidez e destreza conseguia manejar e movimentar suas mãos para expressar os desejos e pensamentos. A senhora que o acompanhava entendia com precisão seus gestos. Havia troca de olhares. O aconchego e o carinho faziam parte daquela relação. Eram mais que amigos, um oferecia ao outro confiança e intimidade. As brincadeiras, os risos e os apegos eram constantes. Existia afinidade entre essas duas criaturas. Um entendia o outro. A condição humana e a inspiração de entender o semelhante refletia entre eles. A comunicação fluia com tamanha naturalidade ao ponto de compreenderem mutuamente. Superava todos os limites e as barreiras fisiológicas possíveis. E, tudo isso era representado por gestos. O gesto do amor, do companheirismo e do viver interligava àquelas vidas.

A fonoaudióloga Maria d'Ângelo Ventura explica que a "Mudez ou Afonia é uma deficiência que indica incapacidade total ou parcial de produzir fala. E que as principais causas de mudez são físicas, podem estar relacionadas com a garganta, cordas vocais, língua, boca, pulmões, ou outros. Quando associada à surdez, isto porque os surdos de nascença, por nunca terem ouvido, nunca aprenderam a falar. Uma pessoa pode nascer muda, ou adquirir a mudez mais tarde, como resultado se algum acidente ou devido à exposição a determinados químicos."

Essa era a condição fisiológica daquele garoto. Após alguns minutos de viagem percebi que iriam descer na estação da Penha. E, apartir dali tive uma terceira certeza: essa foi uma viagem fascinante e enriquecedora.

Aprendi que a felicidade está nos momentos compartilhados com quem se ama. Essa ação independe da cor da pele, da condição física, econômica ou do status quo. Resume no que se pode chamar de experiência única. Observar as coisas como elas são, mesmo que a primeira vista pareçam simples e ilógicas, essas sim, podem esconder o mistério da vida ou a chave para grandes descobertas. Por isso, a aprendizem é um processo e nada melhor do que começar pela observação.